4 de maio de 2010

Nossa Língua Portuguesa

Precisão e adequação vocabular


 
6. A NÍVEL DE ou ??? e ENQUANTO ou ???
A frase é: “Este fato a nível de política foi um desastre.”
É mais adequado: “Este fato em termos políticos foi um desastre.”
Nos últimos anos, a expressão A NÍVEL DE tornou-se “a estrela maior” da fala de nossos políticos e executivos em geral. Muitos ainda a usam e, provavelmente, julgam que estão falando “bonito e correto”. Grande asneira! A NÍVEL DE é modismo. O que existe é EM NÍVEL, mas só podemos usar quando houver a ideia de “níveis”. Por exemplo: “Este caso só será resolvido em nível federal” (poderia ser no nível estadual ou municipal).
Você afirmar que “um determinado problema da sua empresa só será resolvido em nível gerencial” está correto, pois deve haver outros níveis hierárquicos dentro da sua empresa.
Agora … “Somente eu, ENQUANTO pessoa, A NÍVEL de ser humano, sou capaz de resolver os nossos problemas.” Isso é demais! Se não bastasse o A NÍVEL DE, ainda temos que aguentar o ENQUANTO? É outro caso de uso inadequado das palavras.
ENQUANTO é uma conjunção subordinativa que tem a ideia de tempo simultâneo: “Ela trabalha enquanto ele dorme.” Pelo visto, o autor da frase acima não é capaz de resolver nem seus próprios problemas linguísticos, quanto mais os problemas da empresa.
7. PREVER ou DETERMINAR?
A frase é: “Ele conseguiu uma liminar prevendo a sua reintegração.”
É mais adequado: “Ele conseguiu uma liminar determinando a sua reintegração.”
Não é uma questão de previsão (=ver antes). Qualquer liminar é uma ordem a ser seguida, portanto ela determina.
Com muita frequência ouvimos ou lemos frases do tipo: “Ele entrou com uma liminar…” Na verdade, ninguém “entra com uma liminar”. O que nós podemos fazer é entrar com um pedido de liminar. Para quem não sabia: liminar é algo que o juiz concede ou não. Liminar se pede e o juiz concede ou não. Assim sendo, essa história de “entrar com uma liminar” é impossível. E, se o juiz conceder liminar favorável, é redundante (se o juiz concedeu a liminar, só pode ter sido favoravelmente).
8. ACATAR ou ACOLHER?
A frase é: “O juiz acatou uma ação…”
A solução é: “O juiz acolheu uma ação…”
Acatar e acolher não são palavras sinônimas. Um juiz acolhe uma ação, e não acata. Acatar significa “obedecer”. Portanto, não é o juiz que acata, e sim nós que acatamos a ordem de um juiz.
Dizer que “um juiz deu um parecer” também deixa qualquer juiz chateado com a nossa ignorância. Quem dá parecer é advogado, consultor, perito… Juiz não dá parecer, juiz decide.
9. RENDER ou CUSTAR?
A frase é: “A nudez rendeu-lhe um processo.”
O mais adequado é: “A nudez custou-lhe um processo.”
O verbo render tem carga positiva. É, portanto, inapropriado usarmos o verbo render com a palavra processo, que tem carga negativa. Seria apropriado se a tal “nudez lhe tivesse rendido uma pequena fortuna”.
Vejamos mais algumas combinações inadequadas que devemos evitar: “Ela teve o privilégio presenciar o crime…”; “Os antigos prisioneiros terão a alegria de se reencontrar para lembrar os anos de sofrimento”; “Um acidente fatal deixou o saldo de três mortos e cinco feridos”…
Imagine a seguinte situação: um jornalista fazendo uma reportagem a respeito de um grande acidente aéreo. Muitas mortes e muita gente ferida. Alguns em estado gravíssimo. O repórter, na UTI de um grande hospital, consegue entrevistar um sobrevivente. Aí “solta a pedrada”: “Este aqui teve a sorte de só perder a perna esquerda”. Se compararmos a situação do sobrevivente com os demais, daria até para entender a frase do nosso repórter. Mas, que é de mau gosto, isso é. Na verdade, ele teve a sorte de sobreviver.
10. ARRUINADO ou DESTRUÍDO? e COMPLEMENTAÇÃO ou SUPLEMENTAÇÃO?
A frase é: “O incêndio deixou o aeroporto totalmente arruinado.”
É melhor: “O incêndio deixou o aeroporto totalmente destruído.”
Arruinado não é bem ficar “em ruínas”. Arruinado ficou quem foi levado “à ruína”, ou seja, quem perdeu tudo, quem perdeu todos os seus bens, quem perdeu toda a sua riqueza. No Rio de Janeiro, tivemos um triste caso de um prédio destruído que deixou muitas famílias arruinadas, mas o dono da construtora…
Confundir complementação com suplementação também pode causar algumas dores de cabeça. Complementação é “aquilo que complementa, aquilo que completa”. Suplementação é “um extra, um adicional”. Receber a complementação do 13º salário significa receber a segunda parte. Uma suplementação salarial seria um 14O salário por exemplo. Num jogo de futebol, a etapa complementar é o segundo tempo; uma etapa suplementar seria uma prorrogação. Qual é diferença entre uma verba complementar e uma suplementar? Verba complementar é a última parte daquela verba que já estava prevista. Verba suplementar é aquela verba extra, não prevista, que lá sabe Deus de onde sai.


Postado por Sérgio Nogueira em 28 de abril de 2010 às 18:22 no
site: http://colunas.g1.com.br/portugues/
 

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